sexta-feira, 1 de julho de 2011

Liberdade

E de tanta tristeza cessaram os batimentos.


Havia um belo pássaro azul que lamentava todos os dias, o fato de ser sido-lhe imposto uma gaiola.
Todos os dias acordava, olhava pela grade e pensava:
- Quero minha liberdade!
Mostrava-se muitas vezes agressivo, melancólico e até mesmo ausente de si, quando era o momento de ser tratado.
Cantava uma melodia triste, não suportava ver outros pássaros fazendo o que sentiam vontade enquanto ele estava fadado a limitações.
Certo dia, antes de dormir, cansado da vida que levava, bolou um plano e adormeceu com um sorriso no bico.
No outro dia, quando foram tratá-lo, conseguiu escapar e voou livremente pela janela, sua euforia era tanta, que não sabia nem para onde ir, voou adiante até suas asas cansarem, pousou e apesar de exausto, mal podia conter-se por estar finalmente livre. Entretanto, o tempo foi passando ao longo do dia, sentiu fome, sentiu frio, voou sem rumo para vários lugares buscando a felicidade tão sonhada...
Voou entre gansos, periquitos, maritacas, corvos, corujas e até mesmo com morcegos, procurando aquela sensação que devaneava no balanço de sua gaiola.
Após algum tempo, o pássaro tornou-se novamente melancólico, agressivo e até mesmo ausente de si, quando uma gaivota voava por perto e resolveu conversar um pouco:
- E aí marujo, o que manda?
- Eu não sei, estou só aqui parado pensando... - Disse o pássaro azul sem desviar os olhos do horizonte.
A gaivota retrucou:
- Pensando em que?
- Eu não sei dizer, estou procurando...
Novamente a gaivota falou:
- Procurando o que?
O Pássaro azul deu um grande suspiro, contou sua história para a Gaivota, que apenas balançava a cabeça e o bico para cima e para baixo. Quando terminou, ficaram em silencio alguns minutos, até que a Gaivota falasse:
- Marujo, a liberdade está dentro de você, há pássaros livres em gaiolas com seus humanos e pássaros em cativeiro quando em liberdade. A liberdade está em seu coração. A pergunta que deve responder é... Aonde meu coração está?
Terminou a frase e levantou voou seguindo seu percurso.
O Pássaro azul permaneceu no mesmo lugar durante muito tempo, procurando resposta para a pergunta da Gaivota. Começou a buscar dentro de suas lembranças aonde estava seu coração... Entre breves lágrimas e sorrisos, percebeu que antes de ver outros pássaros "livres" era feliz em sua gaiola, cantava alegremente todos os dias, acariciava a mão de sua dona todas as manhãs e havia desvalorizado todo o amor e lar que tinha, por uma ilusão. Afinal, concluíra que para cada pássaro há uma liberdade relativa e que a realidade do outro poderá nos deixar infeliz.
Levantou voou para voltar para casa, para sua gaiola, seu ninho e sua dona, voou adiante até suas asas cansarem, pousou e apesar de exausto, mal podia conter-se por estar finalmente na janela de sua casa.
Respirou fundo para cantar a mais linda das canções que jamais havia cantado quando ouviu outra música, procurou em volta entretanto, não via nenhum pássaro voando por perto ou pousado em uma árvore, ouviu novamente e olhou pela janela...
Não podia suportar, em sua gaiola havia outro pássaro, um pássaro amarelo, cantando alegre em seu balanço.
O Pássaro azul permaneceu lá olhando a noite inteira, o outro pássaro com a sua dona, alimentando-se e dormindo na sua gaiola...
Então chorou e de tanta tristeza cessaram os batimentos...

.

Deleite...

De todos os amores, você despertou os meus sonhos mais doces, meus desejos mais quentes e meus sorrisos mais sinceros...