quarta-feira, 30 de abril de 2014

Impasse

Bem-te-vi pelos campos
Bem-te-vi pelos sonhos
sorri ao bem te ver
voou ao bem me olhar.

Bem me viu sem me ver
Bem- te-vi sem chorar
partiu sem bem me querer
parei ao bem te encontrar.


terça-feira, 15 de abril de 2014

Máscara

Baixou os olhos para o fundo do copo e viu sua bota pelo líquido amarelado, seu sorriso e olhos brilhavam com a mentira que contava para si.
Chegou a casa imensamente elétrica, quase convulsionando de tanta energia e quanto mais sorria menos convencia. Suas pupilas dilatadas e cabelo desgrenhado exalavam todo o seu descontrole.
Pediu um cigarro, acendeu, desvairava-se pelos cantos e sentou-se. Sorria em demasia, mexia-se em demasia, afirmava-se com exagero típico de quem precisa se convencer de suas "verdades".
Concordei com todas suas afirmações sorrindo, verifiquei pupilas e questionei sobre ilícitos. Negou.
Talvez estivesse entorpecida pelos próprios sentimentos que são tão alucinógenos quanto alguns cogumelos.
A doçura do seu sorriso e olhos vidrados tranformaram-se dando-lhe traços felinos e afiados. Compreendi que a sua eletricidade era um prelúdio ao ataque. Excitada como uma Naja vibrava a cabeça para acelerar o movimento do seu "esguicho de fel", assim cobrindo minha incapacidade de prever e articular uma defesa.
Suas palavras atingiram certeiramente o que poderia pressupor minhas capacidades neurais em reagir, paralisando e interrompendo a comunicação entre meus nervos e músculos. O sorriso ainda pairava debilmente no rosto e apenas os olhos poderiam expressar quaisquer resquícios deste golpe.
Levantou-se e refugiou-se em seu abrigo pseudo-abstrato fechando a porta mais uma vez.
Imóvel vibrava ódio e sentia cada célula recebendo meu oxigênio e trocando por carbono, seu ataque paralisava a capacidade expressiva, embora avessamente sentia-me lucida.
 
Respirava com plenitude, aspirando e expirando maiores quantidades de ar e silenciei. Fechei os olhos por breves segundos e iniciei um processo reverso, deixando as energias exalarem pelos poros e retrocedi seu veneno. Serenei. 

Sorri novamente e compreendi a quão ferida está, a quão dolorida e frágil encontra-se. As investidas incessantes ao longo deste convívio, deixaram que meu corpo crie reações diferentes do que seria esperado por você.

Enquanto busca regenerar-se em sua essência, transforma suas intenções em frente ao espelho treinando debilmente aquela expressão de desespero e necessidade de amparo que lhe serve de isca para tolos como eu.