terça-feira, 28 de novembro de 2023

Poxa!


[...] 

- "Poxa!"

É esse o meu sentimento, poxa! Embora não é um sentimento, mas uma palavra para expressar a energia que percorre minhas células e vibram em meu peito.
Sinto que vou explodir e as lágrimas tocam meus cílios me convidando a transbordar.

...

Ouvi meu nome e pedi um momento, pois iria sair pela catraca e havia o processo em por o crachá, aguardar liberação e então fazer a passagem pelos ferros gélidos que separam um espaço de outro.

Sorri e me aproximei do balcão, havia duas pessoas na portaria e uma delas questionou-me:

- Você quer participar da confraternização...

Eu não ouvi mais nada, meu cérebro paralisou e os pensamentos diziam:

- "Confraternização, se eu quero participar?"

Eu acenei que sim com a cabeça e ela prosseguiu dando as informações: quem estava organizando, qual a data e que iriam alugar uma área de lazer...
Novamente meus pensamentos:

- "Não é uma confraternização formal, é algo entre colegas e eu fui convidada, poxa!"

Ela solicitou meu número e disse que iria me adicionar no grupo de whatsapp e disse que poderia levar minha esposa! Agradeci o convite e vim pisando nas nuvens com esses pensamentos...

"- É a primeira vez que sou convidada sem ser obrigatório..."

"- Será que vou estragar tudo?"

"- Nossa, ninguém se importa se sou lésbica ou autista..."

"- Preciso contar para alguém! Eu fui convidada!"

Escrevo esse texto para contar a alguém que talvez não conheça, mas estou transbordando lágrimas de alegria por me sentir "pertencendo", mesmo sem saber que fazia parte...

Novamente,

- "Poxa!"

[...]

quarta-feira, 12 de julho de 2023

Com amor, Adeus!



Quando foi que você notou que não era mais importante ou necessário na vida daquela pessoa que quando surge na sua mente enche seu coração de afeto e saudosismo?

Não estou falando sobre amor entre pares, daqueles relacionamentos românticos, mas sobre as amizades que em dado momento foi a última vez que um de vocês de fato se despediu e seguiu.

Eu não pude me despedir apropriadamente na última vez que de fato seria a última vez da nossa ligação... Até nos encontramos outra vez e foi tão estranho olhar nos seus olhos e notar que ali já não (me) reconhecia... Falamos sobre o passado, pois hoje não temos nada a construir... Somos outras pessoas, outras crenças e valores... 

Será que foi quando meu coração partiu e você não me apoiou que nós nos despedimos sem dar adeus? 

Será que foi quando lhe fui sincera sobre o que sentia e discordamos?

Será que nos despedimos um pouco ao longo dos anos e encontros e quando apaguei o último cigarro, nos apagamos também?

Honestamente, eu não sei. Noto que me incomodo com as diversas demonstrações de afetos vazias e ausência constante. Palavras não me sustentam e me causam estranhamento...

Talvez, não possamos hoje encontrar o momento que nosso vínculo acabou, quando de fato nos despedimos sem notar que não voltaríamos a sorrir e viver novas aventuras, apenas contemplar o passado...

Entretanto, hoje eu posso compartilhar, (não para você, mas para mim e aqui), que não temos  nada em comum além de memórias e nossa amizade não existe mais e está tudo bem.

Seguirei lhe curtindo, enviando corações e palavras vazias de saudades e lhe amando no passado, mas sem expectativas ou tristezas por não ser mais a sua primeira ligação quando as coisas vão mal... Você também não é mais a minha primeira ligação quando estou mal e definitivamente, não compartilho mais quando estou explodindo de felicidades...

Eu não sei quando mudamos e tenho fingido que está tudo igual, entretanto, hoje acordei corajosa e preciso lhe dizer:

- Adeus, minha amiga, eu sentirei falta das nossas aventuras e momentos vividos, mas garanto que teremos novas aventuras com outras pessoas e nós seremos uma boa memória, como a fotografia de um momento feliz na infância.



Até que o vento nos encontre, ainda sorrirei ao lembrar de você ♥

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Adeus Magda, as letras e as palavras

 Acredito que minha primeira paixão tenha sido as letras e o mistério do que, quando unidas, significavam. 

Provavelmente, meu primeiro e maior hiperfoco foi a busca pelo sentido, pelo significado, pela representação.

Lembro-me de estar no banco traseiro e observar as letras pelo caminho: "élê-tê-dê-a..." e minha mãe explicava:

- Lê "litida" e significa limitada...

Aquelas letras pintadas de vermelho em um prédio amarelo me envolveram por anos, talvez até hoje.

Em minha casa havia muitos livros, principalmente dicionários, e eu os amava intensamente. Lá havia todas as palavras, seus significados e pronúncia. Dicionários de antônimos e sinônimos com capas duras e vermelhas, páginas amarelas e cheiro de poeira. Dicionários comuns, alguns livros de latim, uma versão capa dura vermelha e páginas amarelas de poemas de Fernando Pessoa (Alberto Caeiro) que tenho até hoje, embora esteja doando todos os meus livros físicos como mudança necessária para 2023, este está entre alguns que talvez fiquem... É muito difícil desapegar e abrir espaço para o novo.

Voltando as letras, aos livros e à infância, minha irmã me ajudou inúmeras vezes com brincadeiras que deviam ser entediantes para ela... "Obrigada, Nar, sempre lhe amarei por isso!"

Estas brincadeiras duravam horas, ela abria o dicionário aleatoriamente e me dizia uma palavra e eu precisava descobrir o significado e soletrar corretamente, quando acertava, ganhava um ponto... Eu ainda amo dicionários, inclusive só escrevo com uma aba do navegador em dicionário de sinônimos, pois um texto rico de palavras diversas sempre me encantaram.

Hoje escrevo sobre esta "obsessão sobre significados e palavras", pois deparei-me com um post fúnebre sobre a morte de  Magda Becker Soares... Quem é Magda? Eu também não conhecia, descobri que é uma grande alfabetizadora e referência na educação...

Mas, o que me inspirou e elevou foi o fragmento de uma fala sua exposta neste post:

"A arma social de luta mais poderosa é o domínio da linguagem."

E esta frase me deu um loop no coração, os olhos encheram de lágrimas e ao enviar a frase para minha esposa, completei:

"Foram as palavras que me salvaram, foram os livros que me levaram para sair e é com o poder das palavras que driblei as limitações do meu autismo até hoje...

As palavras são as armas mais fortes que alguém pode ter, dominar o que as palavras querem dizer e onde podem nos levar é de fato, para minha vida, o maior tesouro e mapa que me guiam."

Falo sempre que eu tenho palavras e é por isso que consigo "dar conta" de algumas trajetórias. Creio que o meu diagnóstico tardio dá-me, principalmente, pelo poder que as palavras e seus significados me deram, a possibilidade de conseguir articular de forma assertiva sobre conhecimentos.

As palavras me salvavam quando escrevia poemas para lidar com a exclusão e a dificuldade em lidar e pertencer a este mundo, as palavras me salvam quando hoje consigo me posicionar e defender minhas ideias, minha familia e minha existência, as palavras me salvam quando aprendo a usá-las de forma gentil e expressar o que sinto para criar vínculos, pontes entre o meu amor e a pessoa a quem me direciono. 

No jogo das palavras, eu me encontro e visto o lugar que mais pertenço... 

Magda estava certa ao dizer que o domínio da linguagem é a arma social mais poderosa, aprender os significados da língua portuguesa me tornou uma guerreira e também uma poeta, eu transbordo o mundo e o que sinto em cada letra que escrevo ou que imagino ao meu redor, dando sentido ao que respiro.

Tantas palavras, tantos sentimentos e tanto a sentir. 

Esta frase inclusive iniciou um grande movimento em mim que apresenta-se neste texto despretensioso e tão significativo para esta autora que diversas vezes "colou" os silêncios de si com letras e rimas.

Adeus, Magda, hoje me despeço e ao mesmo tempo me apresento para conhecer e me transformar com as suas letras e as suas palavras.

Agradeço também a Maria Mortatti por produzir o post e postá-lo.