quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Pressa...

Silêncio, eu tenho pressa, as suas orações atrapalham os meus pensamentos e não alcançam lugar algum... O seu sorriso engana os meus olhos mas nunca a minha razão... É preferível a morte agressiva ao cinismo do seu afago, preferível o escarro na face ao seu abraço ladino...


Silêncio, eu tenho pressa, tenho pressa para ser feliz onde seja livre e as cores sejam bem fortes para sentir o vento e paz...

quinta-feira, 21 de junho de 2012

O que te movimenta?


O que movimenta é a raiva. Algumas atitudes são independentes de efeitos de álcool e drogas, mas, a maioria das atitudes tem algum tipo de raiva, mesmo que não admita-se.

O que movimenta é o orgulho. Algumas atitudes matam outros sentimentos para deixar a superfície lustrada a puro orgulho. Inverter-se o amor ao próximo pelo amor a si.

O que movimenta é a luxúria. Algumas atitudes desinibem o recalque e transforma as princesas em devassas. Elas fazem expressões doces a maior parte do tempo, aparentam a inexpressão constante para acalmar os vulcões que erupem-se com estímulos inebriantes em 8000 feixes de fibras nervosas.

O que movimenta é o amor. Algumas atitudes revelam total desprendimento do egocentrismo latente para uma mistura de sentimentos que elevam o nível de seretonina.

O que movimenta é a amizade. Algumas atitudes tornam-se inexplicáveis o envolvimento entre duas pessoas sem nenhum vinculo afetivo / sexual. Talvez, o mais sublime sentimento e com certeza o mais raro.

O que movimenta é o medo. Algumas atitudes apresentam tanto medo que as pessoas sucumbem a personalidade para que tal situação ou perda não aconteça. O medo realça vários sentimentos divergentes, desde a melancolia a agressão descontrolada.

O que te movimenta é a nostalgia. Algumas atitudes foram tão benéficas em algum momento que as pessoas preferem devanear em lembranças a permitirem-se viver novas sensações.

O que te movimenta é o remorso. Algumas atitudes realizadas por outros movimentos consomem a consciência de algumas pessoas, definhando a vitalidade de alguma forma.

O que te movimenta é a confusão. Algumas atitudes são tão confusas e agradáveis para algumas pessoas. Estas atitudes demonstram fraqueza, medo, aflição ou qualquer outro sentimento submergido na dúvida e no prazer de não definir-se em algum aspecto.

O que te movimenta é a auto-piedade. Algumas atitudes são baseadas na compaixão a si mesmo. Há alguma coisa de belo nesta auto-flagelação, próxima a apatia, piedade ou fanatismo em sofrer pelo prazer do sadismo. Incompreensível, entretanto, deve haver alguma beleza que ainda não observamos, apenas aqueles que choram e frustram-se em sua dor percebem.

O que te movimenta é a inveja. Algumas atitudes acentuam os defeitos alheios para ocultar uma comparação desfavorável entre pessoas ou objetos. A inveja esconde uma vontade frustrada de possuir atributos ou virtudes de um outro, talvez por uma incapacidade do mesmo de alcançar o ápice desejado, seja isso por limitação física, intelectual ou emocional.

O que te movimenta é a inspiração. Algumas atitudes surgem de estímulos criativos, resultando em detalhes ricamente autênticos e repletos de enredos mágicos.

O que te movimenta? Somos movimentados por uma efusão gigantesca durante dias, horas, minutos, anos, meses, segundos. O que te movimenta é o ponto principal de cada sorriso, lágrima, sonho, rancor, qualquer sentimento, emoção, pensamento, atitude...

O que te movimenta?

Vento .







No final dos ventos há sempre um suspiro, um estalado beijo jogado para fora do carro, um sorriso torto, frações de lembranças, piscar de olhos, bicos, assovios, palmas, gritos, lágrimas, desejos...
O vento percorre todos e carrega consigo um fragmento de cada, quando o encontramos ou quando ele nos encontra, rodopia, abraça, envolve e solta-se, as vezes acaricia, as vezes bate, ausenta-se para depois voltar com força...
Ah! Este vento é um menino levado, um rapaz apaixonado, um homem moderado e um idoso sábio.
O idoso que abraçou-me quando fraquejei, trouxe uma pétala para que lembrasse-me que haviam cores quando estava tudo escuro, apagou a vela quando dormia exausta em um sofá lendo cartas...
O homem que calou minhas canções, secou meu rosto, empoeirou o retrato, apagou o riso, cessou o grito...
Aquele rapaz que trazia-me o seu perfume numa ponte, os seus olhos num campo e o seu amor em uma flor...
Pequeno menino travesso que surpreendia-me com rajadas que estremeciam, provocava carregando meus papéis e brincando com os meus cabelos...
Vento, és o meu único amigo, companheiro, traga-me todas as manhãs o homem, as tardes o menino, as noites o rapaz e durantes as madrugadas, venha como este senhor que acalenta e fortifica.
Quando lhe encontrar darei a melhor essência que houver e leve-a você sabe para quem.
Quando encontrar-me abrace, faça-me rir e deixe um resquício do amor que com o vento se foi.


quarta-feira, 6 de junho de 2012

Helena.

Ele sussurrou:

- Helena, por favor...

Ela sem olhar para trás partiu naquela rua ladrilhada de pedriscos, sua bolsa verde em uma mão, sobretudo aberto e cabelos soltos, castanhos claros, cacheados e longos. Aquele beco ficara maior e da onde estava cabisbaixo sentia o perfume em suas mãos.
Chorou por tempo demasiado e exausto retornou ao lar, aquele lugar que fora abrigo de tantos risos era só um pesado silêncio. Eduardo, não conformava-se com a partida, não aceitava o vazio que fora tomando espaço em sua vida.
Passava os dias vegetando, acordava e estendia a mão para cama vazia, não dera-se ao trabalho de trocar os lençóis, deixou seu loft intocado para quando ela voltasse... Ia todas as tardes à praça com esperança que lhe reencontraria... E quando lhe reencontra-se abriria os braços, o sorriso e o coração, lançaria-a ao ar e rodaria, diria que estava tudo bem, compreendia e poxa! Como sentira sua falta, pegaria em sua mão, iriam caminhar pelas ruas, diria bom dia a todos que passassem, sorririam um para o outro com cumplicidade companheira, tomariam café e pediriam um pedaço de bolo de cenoura, neste dia tudo seria especial, o sol brilharia por mais tempo, as gramas estariam mais verdes e o sapateiro da esquina lhe acenaria tocando o chapéu percebendo a felicidade não contida...
O dia arrastava-se lento, tardes maçantes, senhoras com suas sacolas de tricô e compras perambulando, crianças correndo e mais um por-do-sol anunciava=se, ela não retornara ainda... Mãos nos bolsos, olhos aos pés e voltava para casa...
As noites, eternas noites, torturantes pelo tic-tac de um relógio comprado em um brechó na primeira viagem que fizeram ao Chile, a neurose consumindo sua sanidade, verificando celular, e-mail, rede sociais e caixa postal, o irritante som do não tocar de campainha e a mazela de suas lembranças... Dormia largado aos cantos, raramente ia para cama, não acostumava-se a deitar sozinho, dormia onde estava, normalmente, sofá ou tapete... Quaisquer barulhos da rua lhe despertavam com o medo dela bater à porta e não escutar, então, partir para sempre...

As horas tornaram-se dias, dias viraram semanas e as semanas... meses!

Eduardo não sabia mais o que fazer e as desculpas para si mesmo haviam acabado, os amigos lhe procuraram no começo mas, depois de um tempo desistiram, sabiam que um dia ele perceberia que era em vão... Helena, não voltaria.

Marcos estava com Helena há muito tempo, a bem da verdade, fora o motivo de sua partida, entretanto, Eduardo acredita em outros motivos, até que um dia em sua fissura por redes sociais leu uma frase de Helena e desligou o computador.
Passou os dias da mesma forma como há muito vinha fazendo, afinal, tornara-se um ritual. Final da tarde, voltava com sua tristeza de sempre, quando esbarrou em uma senhora e derrubou-lhe as sacolas, as laranjas rolaram pelo meio fio e sem graça recolheu tudo, pedindo desculpas insistentemente. Ergueu-lhe os olhos, sorriu como quem perdeu a pratica e ela lhe abriu franco sorriso, agradeceu e convidou para um café, hesitou mas, acabou aceitando. Não conversava com ninguém há tanto tempo, que mal faria? Caminharam mais algumas quadras, Olga era seu nome, tinha 76 anos, senhora viuva, negra, calça caqui e blusa branca, cabelos brancos e uma bondade que acolhia a quem a olhava.
Entraram e novamente aquele silêncio, não constrangedor, confortável... Olga lhe contou a vida, mostrou as fotos de netos, filhos e marido, amor que fora-se há 30 anos de um subto infarto, enquanto falava seus olhos brilhavam e Eduardo não pode conter o choro que vinha contendo, suas lágrimas cessaram na primeira semana... Como uma mãe que acolhe aos filhos em tempos difíceis colocou sua mão sobre as suas e esperou o silêncio retornar, então, Eduardo desculpou-se novamente e pela primeira vez admitia os fatos em voz alta e percebia o fel da verdade...

Helena, estava apaixonada por Marcos, não lhe amava, talvez, nunca o tenha e por isso partiu, não foram os erros, não foram as brigas e muito menos o gosto dele por blues e dela por Erudito, percebeu que o sentimento que nutria por ela fora grande o suficiente para esperar, ceder e sonhar... Mas, sonhava por uma ilusão e ilusões não concretizavam-se, pelo menos não nesta vida.

Olga esperou terminar e lhe disse:

- Eduardo, o único sentimento que importa é o reciproco, o restante será sempre ilusão...

Ele pensou, agradeceu e prometeu-lhe novas visitas, sentia-se triste, cansado e frustrado mas, leve... Colocou as mãos nos bolsos, ergueu a cabeça e deixou o vento lhe tocar, confiante de um novo começo.

.

sábado, 10 de março de 2012

Competição

Sentados em um elevador quebrado, discutem arduamente e exaustos desabafam:
- Não posso mudar quem eu sou...
- Nem eu...
- E o que faremos agora?
- Não estou com vontade de falar...
- Okay, nem eu...
Ela deita a cabeça em seu ombro e suspira...

Quando o amor não é suficiente para sua vida e ao mesmo tempo indispensável... Como lidar com tantas diferenças e necessidades?
Quando cegamos de tantas dores e rebeldias e a madruga assola com lembranças...
Inevitavelmente, segue-se em frente, incompletos, entretanto, adiante... Conscientes que racionalmente é o correto... Emocionalmente fragmentados...
Expondo convicções escritas e verbais de suficiência e indiferença... Intrisecamente vedados aos sentimentos...

Desapego e afeto, realmente, a quem estamos tentando enganar, aos outros, a pessoa que está apenas ocupando um espaço para nossa fuga ou para aqueles que deixamos para trás por divergências nada cedíveis?

...

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Último ato...

Ela estava sentada no topo de uma montanha, observando o horizonte, pensando nas pessoas, problemas, lembranças que rodearam sua vida, quando sentiu um vento soprando em seus ouvidos e disse sem pensar...
- Vento, diga que eu o amo...
Depois lançou-se com os braços abertos, olhos fechados e coração pesado em direção nenhuma, apenas caindo como suas lágrimas caiam antes e molhavam o chão...