quarta-feira, 6 de junho de 2012

Helena.

Ele sussurrou:

- Helena, por favor...

Ela sem olhar para trás partiu naquela rua ladrilhada de pedriscos, sua bolsa verde em uma mão, sobretudo aberto e cabelos soltos, castanhos claros, cacheados e longos. Aquele beco ficara maior e da onde estava cabisbaixo sentia o perfume em suas mãos.
Chorou por tempo demasiado e exausto retornou ao lar, aquele lugar que fora abrigo de tantos risos era só um pesado silêncio. Eduardo, não conformava-se com a partida, não aceitava o vazio que fora tomando espaço em sua vida.
Passava os dias vegetando, acordava e estendia a mão para cama vazia, não dera-se ao trabalho de trocar os lençóis, deixou seu loft intocado para quando ela voltasse... Ia todas as tardes à praça com esperança que lhe reencontraria... E quando lhe reencontra-se abriria os braços, o sorriso e o coração, lançaria-a ao ar e rodaria, diria que estava tudo bem, compreendia e poxa! Como sentira sua falta, pegaria em sua mão, iriam caminhar pelas ruas, diria bom dia a todos que passassem, sorririam um para o outro com cumplicidade companheira, tomariam café e pediriam um pedaço de bolo de cenoura, neste dia tudo seria especial, o sol brilharia por mais tempo, as gramas estariam mais verdes e o sapateiro da esquina lhe acenaria tocando o chapéu percebendo a felicidade não contida...
O dia arrastava-se lento, tardes maçantes, senhoras com suas sacolas de tricô e compras perambulando, crianças correndo e mais um por-do-sol anunciava=se, ela não retornara ainda... Mãos nos bolsos, olhos aos pés e voltava para casa...
As noites, eternas noites, torturantes pelo tic-tac de um relógio comprado em um brechó na primeira viagem que fizeram ao Chile, a neurose consumindo sua sanidade, verificando celular, e-mail, rede sociais e caixa postal, o irritante som do não tocar de campainha e a mazela de suas lembranças... Dormia largado aos cantos, raramente ia para cama, não acostumava-se a deitar sozinho, dormia onde estava, normalmente, sofá ou tapete... Quaisquer barulhos da rua lhe despertavam com o medo dela bater à porta e não escutar, então, partir para sempre...

As horas tornaram-se dias, dias viraram semanas e as semanas... meses!

Eduardo não sabia mais o que fazer e as desculpas para si mesmo haviam acabado, os amigos lhe procuraram no começo mas, depois de um tempo desistiram, sabiam que um dia ele perceberia que era em vão... Helena, não voltaria.

Marcos estava com Helena há muito tempo, a bem da verdade, fora o motivo de sua partida, entretanto, Eduardo acredita em outros motivos, até que um dia em sua fissura por redes sociais leu uma frase de Helena e desligou o computador.
Passou os dias da mesma forma como há muito vinha fazendo, afinal, tornara-se um ritual. Final da tarde, voltava com sua tristeza de sempre, quando esbarrou em uma senhora e derrubou-lhe as sacolas, as laranjas rolaram pelo meio fio e sem graça recolheu tudo, pedindo desculpas insistentemente. Ergueu-lhe os olhos, sorriu como quem perdeu a pratica e ela lhe abriu franco sorriso, agradeceu e convidou para um café, hesitou mas, acabou aceitando. Não conversava com ninguém há tanto tempo, que mal faria? Caminharam mais algumas quadras, Olga era seu nome, tinha 76 anos, senhora viuva, negra, calça caqui e blusa branca, cabelos brancos e uma bondade que acolhia a quem a olhava.
Entraram e novamente aquele silêncio, não constrangedor, confortável... Olga lhe contou a vida, mostrou as fotos de netos, filhos e marido, amor que fora-se há 30 anos de um subto infarto, enquanto falava seus olhos brilhavam e Eduardo não pode conter o choro que vinha contendo, suas lágrimas cessaram na primeira semana... Como uma mãe que acolhe aos filhos em tempos difíceis colocou sua mão sobre as suas e esperou o silêncio retornar, então, Eduardo desculpou-se novamente e pela primeira vez admitia os fatos em voz alta e percebia o fel da verdade...

Helena, estava apaixonada por Marcos, não lhe amava, talvez, nunca o tenha e por isso partiu, não foram os erros, não foram as brigas e muito menos o gosto dele por blues e dela por Erudito, percebeu que o sentimento que nutria por ela fora grande o suficiente para esperar, ceder e sonhar... Mas, sonhava por uma ilusão e ilusões não concretizavam-se, pelo menos não nesta vida.

Olga esperou terminar e lhe disse:

- Eduardo, o único sentimento que importa é o reciproco, o restante será sempre ilusão...

Ele pensou, agradeceu e prometeu-lhe novas visitas, sentia-se triste, cansado e frustrado mas, leve... Colocou as mãos nos bolsos, ergueu a cabeça e deixou o vento lhe tocar, confiante de um novo começo.

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2 comentários:

  1. SENSACIONAL! E olha só, não vou falar que esse tá curto! hahah
    Gostei demais: uma das verdades mais dolorosas da vida contada numa história quase que inocente!

    Saudades de vc, Nah!

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  2. Ah! Obrigada, saudades imensas de você... +)

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